A Casa dos Lagares é uma empresa familiar que há várias gerações está ligada ao vinho e à vinha. Esteve sempre situada em Cheires, na Região do Douro, onde tudo representa um forte determinismo histórico e cultural.
Aqui foi fundado um morgadio no séc. XVII, sendo edificada uma casa (com um torreão, ainda existente), uma capela (datada de 1659) e outras construções que fundam uma exploração agrícola e terão dado origem à atual povoação de Cheires. É o ponto de partida nesta história.
Inicialmente, a produção de frutas, cereais e horticultura foram a principal função da quinta, com o objectivo de abastecer outras unidades produtivas, situando-se mais próximas do rio Douro. Estas, começaram a especializar-se na produção de vinho, necessitando de bens alimentares para suportar o crescimento da mão-de-obra utilizada. Estava-se nos primórdios da produção de vinho do Porto.
"Pela tarde veio um trovão com muita pedra que deixou as vinhas sem uvas e sem folhas e levou e arrastou os pens, isto em S. Finz e inda rabigou por Cheires. Veio outro dia 8 de Julho que acabou de limpar com os fructos... apenas deixou pela beira do rio algum vinho pouco, foi com tanta fúria a trovoada... Eu que esta lembrança faço e descrevo na realidade o que vi" Francisco José da Veiga - Dia 23 de Junho de 1831
O crescimento das exportações de vinho do Porto origina o alargamento progressivo da área de vinha na Região do Douro e a sua demarcação. As culturas iniciais são substituídas pela vinha e pelo azeite, que se tornam a principal actividade da quinta, dando origem a novas estruturas como lagares de vinho e de azeite.
A actividade vitivinícola não mais cessará e passa ciclicamente por períodos de expansão, seguidos de épocas de depressão. Factores como a grande instabilidade politica e doenças na vinha (como a filoxera), marcarão o séc. XIX.
No início do séc. XX, a quinta conhece então uma época áurea, com a viticultura a passar por um período de expansão, sendo a propriedade considerada um modelo de exploração. Ao mesmo tempo, a família pertence a uma elite social que influenciará os destinos regionais. Aparecem as primeiras tentativas de comercialização de vinhos engarrafados, novas tecnologias, rótulos e até marcas (ainda que sem o registo actualmente necessário).
Vinhos que falam a linguagem da terra e da memória.
Contudo, nas décadas seguintes, a viticultura entra em crise. Com o surgimento das Adegas Cooperativas, a produção passou a ser vendida em uvas, levando ao progressivo abandono dos armazéns e à degradação das construções.
Durante décadas apenas se manteve a exploração da vinha. Nas últimas duas décadas, esta tendência conhece uma inversão. Renovou-se a área de vinha, com o objectivo de a mecanizar e seleccionar as melhores castas. Retomou-se o fabrico de vinho e a sua comercialização e, neste estimulante desafio, integrou-se o progressivo restauro do património, mantendo a sua originalidade, criando cenários autênticos e espaços de cultura e lazer.
Com mais de três séculos de história, este património tem um trajecto e tradição muito própria, cujas raízes estão na vitivinicultura. Todo ele reflecte ciclos de mudança e de adaptação constante aos novos desafios, ciente de que não há futuro sem que se conheça e assuma o passado.